Meu Gravador

Parando para pensar eu decidi te conhecer.

Quero saber da sua vida, dos seus medos, inseguranças, felicidades, deleites, amores, problemas, machucados, pensamentos, emoções, até a informação mais insignificante e tola sobre você será útil em minha pesquisa.

Estou fazendo um levantamento de lembranças e informações sobre você. E quero saber de tudo, não me poupe de nenhum detalhe.

Vou sentar-me ao seu lado, ligar o meu gravador e te fazer uma só pergunta; e espero uma resposta bem grande. Espero sua vida inteira dentro do meu gravador. Eu não me importo de ficar sentada o resto do meu ano ouvindo sobre você. Eu só quero te ouvir.

Eu não garanto te amar.

Mas eu garanto não publicar a sua vida inteira no meu jornal. Pode confiar em mim. Essa pesquisa é somente com fins pessoais.

E a partir do momento em que você terminar, eu estarei madura, com meus pés bem fimados no chão. Provavelmente eu ainda fique em silêncio por mais um vida inteira. E talvez eu eu não tenha coragem de olhar em teus olhos. O mais sensato seria te abraçar e dizer que iria te amar após tudo o que foi dito.

Saber a vida inteira de alguém é uma responsabilidade muito grande. A partir do momento em que você começa a compartilhar de todas as suas emoções com alguém, você se envove. O ouvinte, mais ainda. Se torna responsável pelos segredos do outro, pela vida do outro. O ouvinte é o que mais se compromete. Ele começa a fazer parte da história de quem a conta.

Eu estou ciente quanto a isso. Talvez seja esse o motivo de não dizer nada. Talvez seja o motivo de eu querer apenas sentar e te ouvir, e não querer te conhecer do modo usual. Porque usando o modo usual eu seria obrigada a me envolver, e provavelmente me apaixonaria ao saber de tudo sobre você.

Estou pronta para apenas sentar e te ouvir.

Boa tarde, meu nome é Ana e eu tenho apenas uma pergunta: Quem é você?

O gravador está ligado. Pode começar.