sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Out of Sight



As ruas estavam molhadas da chuva que caíra há pouco, ela caminhava sozinha em direção à estação de trem, porém sem malas, não sabia para onde iria. A única coisa que importava é que ela estava de partida, e que não gostaria de voltar.
Ela sempre soube que fugir não adiantaria nada, seus problemas, por menores que fossem, não iriam simplesmente sumir. Mas era um alívio poder sair de sua casa, sentir o vento frio de começo de inverno que batia em seu rosto e admirar as silhuetas das árvores, que já tinham perdido todas as suas folhas.
Sua cidade era a primeira estação, haviam mais 12 paradas até o trem chegar à sua reta final. Ao sentar-se no trem, começou a pensar em como não aguentava mais nenhum tipo de pressão, tanto pelas pessoas como por parte de si mesma. Era como se sua vida inteira tivesse que ser decidida naquele instante.
Eram muitas escolhas, muitas visões, muitos sonhos, muitas vontades, para apenas uma noite sem destino.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O sinal estava fechado e eu estava parada, esperando apressadamente pelo sinal verde, quando me deparei com um homem parado na beirada da ponte, olhando o rio, levantando os braços, fechando os olhos. Ele estava vestido com trapos e seu cabelo era longo e bagunçado. Primeiramente achei que ele fosse algum tipo de lunático, ou que ele estava bêbado, drogado, ou algo do tipo.
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Mas conforme eu olhava para aquele homem, ele parecia ser uma pessoa cada vez mais pertubada, sofrida. Foi então que percebi o que ele realmente estava fazendo ali. O homem subiu na beirada da ponte, olhou para baixo e...desceu correndo, se ajoelhou no chão, com as mãos atrás da cabeça, curvando-se.
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Enfim o semáforo mudou para verde, e eu lentamente segui com a minha vida, para meus compromissos, meus amigos, minha família.
Mas...e o resto das pessoas que também estavam com seus carros parados naquele semáforo?! Todas eram assim tão ruins como eu, não sendo capazes de parar com suas rotinas para ajudar uma vida que estava prestes a se desfazer?
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Havia milhões de carros passando por aquela ponte, milhões de pessoas olhando para aquela cena de puro sofrimento, que quase levou ao suicídio! E o que elas fizeram? Simplesmente assistiram a tragédia, com pena, assim como todas as outras tragédias transmitidas pela televisão, vivida por inúmeros brasileiros.
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É só isso que sabemos fazer ultimamente...desperdiçamos a oportunidade que temos de ajudar o próximo. E eu falo por mim também. Ainda não sei o que aconteceu com aquele homem. Mas se ele realmente se matou...alguém se importou? Há quantas outras pessoas como ele? Que pensam que o mundo não deseja mais sua sobrevivencia, que sua morte não faria a mínima diferença e que o seu suicídio iria acabar de vez com a dor de viver??
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Ao andar pela cidade, após ter presenciado um quase suicídio eu cheguei a uma conclusão:
Os lunáticos somos nós.
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Nós, que excuímos da sociedade pessoas que em nossa mente, e em nosso mundo fechado, não são boas o suficiente.
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É, os lunáticos somos nós.
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