quinta-feira, 29 de julho de 2010

"Que o Manuel Bandeira me perdoe, mas... vou-me embora de Pasárgada!"

Vou-me embora de Pasárgada
Sou inimigo do rei
Não tenho nada que quero
Não tenho e nunca terei
Vou-me embora de Pasárgada

Aqui eu não sou feliz
A existência é tão dura
As elites tão senis
Que Joana, a louca da Espanha
Ainda é mais coerente
Do que os donos do país.

A gente só faz ginástica
Nos velhos trens da central
Se quer comer todo dia
A polícia baixa o pau
E como já estou cansado
Sem esperança num país
Em que tudo nos revolta
Já comprei ida sem volta
Pra outro qualquer lugar
Aqui não quero ficar.
Vou-me embora de Pasárgada.

Pasárgada já não tem nada
Nem mesmo recordação
Nem a fome e a doença
Impedem a concepção
Telefone não telefona
A droga é falsificada
E prostitutas aidéticas
Se fingem de namoradas.

E se hoje acordei alegre
Não pensem que vou ficar
Nosso presente já era
Nosso passado já foi.
Dou boiada pra ir embora
Pra ficar só dou um boi
Sou inimigo do rei
Não tenho nada na vida
Não tenho e nunca terei
Vou-me embora de Pasárgada.

(Millor, no Jornal do Brasil)



Um de meus poemas favoritos, na realidade, nenhum lugar é tão bom quanto Manuel Bandeira imagina. Passárgada não tem desafios, nem problemas. Assim não tem graça. Manuel Bandeira que me perdoe, mas vou-me embora de Pasárgada.
PS.: Não tenho NADA contra Manuel Bandeira.

quinta-feira, 15 de julho de 2010


"Prazer, meu nome é Lucy, tenho 23 anos. Moro em uma casa grande na ensolada Califórnia. Estou solteira, aberta para novas amizades. Tenho uma vida maravilhosa! Minha irmã mais velha, Clara, está sempre ao meu lado, é minha melhor amiga; e a minha gatinha Marie é saudável e simpática."
Pronto, acho que minha descrição do Facebook está boa. Me mostro alegre, bem sucedida, e nem um pouco preocupada em arrumar um namorado. É, assim está bom, afinal, é de pessoas assim que todos gostam, certo?
Desliguei meu computador e fui dar comida à Marie, que já estava miando ao meu lado mais uma vez. Confesso que ela mal andava de tão gorda que estava.
Após uma longa briga pelo telefone com minha irmã, me deitei ao som da chuva que caía lá fora, em Boston, me sentia exausta!
Logo no dia seguinte, fui conferir os resultados da minha nova descrição virtual, e por incrível que pareça, tinha dado resultado!
Adam, era seu nome, começamos a nos corresponder, e eu me apaixonei, e ele aparentemente se apaixonou por quem eu fingia ser.
Nos demos tão bem que ele decidiu me visitar, na Califórnia.
Foi quando mais uma vez briguei com minha irmã, mas por fim consegui seu apartamento em Los Angeles por um fim de semana. Era tudo o que eu precisava, por enquanto.
Peguei o primeiro voo do dia 15 de Julho, e na mesma noite Adam já estava parado à minha porta, quer dizer, à porta de Clara.
Foi uma noite um tanto quanto embaraçosa, tive que explicar o porque de minha irmã estar em meu apartamento já na madrugada, inventei mil histórias sobre minha vida na Califórnia, inclusive sobre meu emprego, tomando o cuidado de reclamar um pouco, afinal, a vida de ninguém é perfeita.
No dia 18 de Julho, já em minha verdadeira casa, recebi uma mensagem: "Amor, não aguento ficar sem te ver, saia na sacada, tenho uma surpresa para você."
Digitei o número do celular de Adam, hesitei, mas enfim liguei.
Contei-lhe toda a verdade, disse-lhe que independente de todas as mentiras que contei, estava apaixonada e me mudaria para a Califórnia, e até abriria mão da gorda e arisca Marie.
Mas claro, ele não aceitou. Assim que desliguei o telefone percebi o quanto havia sido estúpida, e estragado a maior chance que já tive na vida.
Confesso, fingi ser algo não era o máximo que pude, mas foi inevitável. Assim como diz o ditado "mentira tem perna curta", ainda mais quando a mentira é de uma pessoa para ela mesma.

sábado, 10 de julho de 2010

A história de uma vela


Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte;

Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa.

Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. (Mateua 5:14-16)


Sexta foi um dia de velas no CJ, dia em que cada pessoa teve um momento para refletir sobre a sua própria luz, se esta estava ou não a brilhar em um meio imundo e escuro em que todos nós nos encontramos nessa Terra.
Após ver cada pessoa dentro daquele salão com sua vela acesa eu comecei a reparar na atitude de cada um com relação ao que estava se passando; uns olhavam com indiferença, outros com medo que a vela apagasse, ou que sujasse sua roupa, ou que pudesse eventualmete queimar alguma coisa.
Mas todos, sem excessão protegiam a chama já acesa para que o seu próprio andar ou que o vento pudesse fazer com que aquele fogo que ardia timidamente desaparecesse.
Se somos "velas", Deus nos segura enquanto brilhamos, Ele nos leva para lugares inesperados, nos conduz, nos move, e do mesmo jeito que quando andamos muito rápido com uma vela ela corre o risco de se apagar, Deus tem todo o cuidado quando nos conduz; devagar, nos protegendo dos ventos que tentam levar nossa luz embora.
Resta a nós permitirmos a Deus que Ele nos proteja desses ventos violentos que muitas vezes podem significar aquilo que tem te afastado de Deus, impedido você de fazer a diferença, de ser luz do mundo.

Que vocês, velas acesas, possam pegar fogo e incendiar velas apagadas ou que ameaçaram perder sua luz.

"Deus, assim que acesa a minha vela, protege-me dos ventos. Eu não consigo sem Ti, não sem a Tua mão."

Meus queridos - que por alguma razão ainda leem o meu blog - perdão por ficar tanto tempo longe, percebi que no momento em que meus textos começaram a fezer mais sentido eu abandonei o blog, mas não o meu caderno. Estou cheia de textos escritos na madrugada de insônia, quando eu não podia ligar o computador, ou julgava meu texto revelador demais. Não sei se realmente estou de volta. Como podem perceber estou meio sem inspiração, e sem tempo também. Sinto falta de postar, sinto falta de ter tempo para escrever e me expressar. Espero voltar...